sábado, 18 de dezembro de 2010

Odeio homens com mãos pequenas

Odeio homens com mãos pequenas. 
Odeio homens com dedos de mulher, sem ombros definidos e odeio homens que desconhecem o mundo musical e o mundo cinematográfico. Por exemplo, os homens do futebol (só do futebol), sempre me fizeram confusão. Sempre achei uma característica de alguém pobre de espírito, que nunca se dedicou a cultivar outras áreas do cérebro ou até mesmo da sua vida. 
Odeio homens que têm alguém como ídolo. Parecem seguir os passos de alguém que gostariam de ser, e no entanto esquecem-se de investir na sua própria personalidade, estilo, gosto, presença. 
Odeio quando acham o que sabem o que se passa pela minha cabeça, pelo meu mundo. 
No fundo, ninguém sabe. Com tanto ruído pelo mundo, às vezes nem eu sei. Não consigo ouvir a raiz das coisas, com tantos obstáculos aos sentidos que possuímos. 
Odeio ter que dizer que te amo, só porque me ofereces -te uma coisa bonita e já passaram três meses sem que ouvisses uma única palavra definitiva de afecto minha. Pode ser complicado estar comigo. 
Odeio ter que parecer bem quando não estou, e odeio ainda mais, ter que me conformar com coisas que não quero perto de mim. Um dia não vou ter que estar aqui, penso. Um dia, vou estar onde quero, com quem quero, e o resto será o que será. 
Odeio rimas baratas, odeio betinhos que curtem de house porque é fashion, odeio perfumes desportivos, excepto um ou outro, odeio não conseguir deixar de fumar permanentemente. 
Odeio o frio, embora adore todos os valores que erguem as cidades mais friorentas do mundo. 
Odeio americanos incultos, generalistas, consumistas. Odeio todos os que não pensam por si sós, cobardes diurnos, corajosos nocturnos. Odeio exibicionismo, de coisas ou pessoas. Odeio o cinismo, embora fundamental em tantas ocasiões. Odeio palmadas de consolo, desprezo palavras automáticas, olhares hipócritas. Odeio que o tempo passe, adoro o que o tempo traz. Odeio maõs pequenas, pensamentos pequenos, objectivos curtos. Odeio que a ambiç\ao de algum consiga cegar o homem do amor, e odeio que o amor consiga cegar ambição de um homem. Odeio pessoas sem esperança, embora consiga compreende-las por vezes. Odeio que no meio de tantos, haja tão poucos. Odeio que que o dia acabe as 17:45. Odeio quem passe um natal sozinho, odeio por vezes este triste caminho... 
 

sábado, 4 de dezembro de 2010

José e Pílar

"Eu tenho ideias para romances, ela tem ideias para a vida", reflecte Saramago sobre a sua vida com Pilar.
Um homem uma mulher. Um português e uma espanhola. Um vida, uma história de amor e cumplicidade.

Miguel Gonçalves Mendes, o realizador deste documentário, é um homem com uma visão singular, que teve o privilégio de acompanhar parte do percurso de José Saramago e Pilár del Rio.
Antes de ver o filme, pensei cá para o meu eu irónico " isto deve ser uma bela merda de uma homenagem à morte de Saramago" e nunca me apercebi até após o visionamento, que foi sim uma homenagem, mas à vida e obras deste escritor inigualável, irreverente e humilde, e à sua mulher, de uma força insubstituível, Pilar.
Há dias falara com o meu pai acerca do filme, do homem, da escrita de José, e o meu pai dissera afincadamente como um homem de sua geração "Não gosto de Saramago. Nunca gostei da escrita, da sua personalidade e das barbaridades que dizia. Já sei que te apaixonas te pelo filme, mas não quero que um documentário me amoleça este pequeno desaforo que mantenho com Saramago" disse sorrindo.
Acredito que a maior parte dos portugueses partilhem desta opinião sem nunca sequer terem lido um livro de José Saramago, sem nunca terem seguido os seus artigos de opinião no Diário de Noticias, sem nunca terem lido as suas crónicas e folhas de pensamentos soltos no seu blog...
Sinto pena por todos vós, que através dessa indiferença, não souberam preservar em vida, o trabalho e empenho deste homem por um mundo segundo as suas causas, segundo as suas paixões:  a escrita, Pílar e Lanzarote.
Portugal devia sentir vergonha, por ter lidado mal com um dos seus heróis, reconhecido pelo mundo inteiro, e fortemente aclamado pelas suas obras.
Graças a Deus, a uma mulher como Pílar del Rio, estar perto de um senhor tão peculiar, e tão humano como Saramago. A sua cumplicidade, e a sua missão de nunca desistir contra tudo e todos, foi captada na perfeição no documentário de Miguel Gonçalves Mendes. Nunca eu, me tinha sentido tão perto de um artista tão sensível, tão vulnerável, e tão apaixonante, como através deste filme, que cá entre nós, é mais uma história de amor de um dos maiores escritores de língua portuguesa de todos os tempo. a nossa paixão de hoje, é pelo cinema. Ainda vão a tempo, de se apaixonar.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Nat King Cole

There was a boy
A very strange enchanted boy
They say he wandered very far, very far
Over land and sea
A little shy
And sad of eye
But very wise
Was he
And then one day
A magic day he passed my way
And while we spoke of many things, fools and kings
This he said to me
The greatest thing
You'll ever learn
Is just to love
And be loved
In return

Piotr Anderszewski


Piotr, Piotr, Piotr...
Há tanto para dizer por detrás deste senhor, deste artista.
Ainda há tão poucos dias, cruzava o meu dia-a-da com um dos pianistas clássicos mais respeitados pelo mundo, sem saber o todo de sua obra... sem saber ou conhecer...
De certa forma no início, pensei que se tratava de um louco, de uma daquelas pessoas que viaja pelo mundo, que por sendo solitária e genial ao mesmo tempo, pensa que pode encher a cabeça de todos os que o rodeiam, sem a mínima sensação de conveniência.
No entanto, tudo ficou mais denso, mais profundo.
Nunca ninguém diria, que um génio deste calibre, tivesse não só uma casa no Príncipe Real (Lisboa), como também conhece disciplinadamente o sabor da nossa terra, do nosso vinho, do nosso mar, quase tão perfeitamente como qualquer português.
Surpreendente.
Um dia perguntei-lhe, em conversa, qual era a sua máxima de vida. Anderszewski responde apenas que é pianista por um acaso, que o único sentido de toda a sua vida, é degustar a comida por todo o mundo onde passa, e deixar-se levar ocasionalmente pelo som da música clássica e do fado.
Um pianista polaco, que vive entre Paris e Lisboa, consegue trazer uma caixa de surpresas por todo o lado onde vá. Até hoje, das pessoas mais fascinantes e humildes que conheci.
Não quero, de maneira alguma, esquecer o concerto que ele deu no Auditório Boa Nova, em São João, no seguimento do Estoril Film Festival 2010.
Aqui, fica a nossa paixão por Piotr Anderszewski e pela música que ele espalha, continuamente, pelo mundo inteiro.