segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Exercicios sobre o cancro





Eu tenho um cancro na minha família.
Um cancro tão sábio e subtil que se alastra sem se ouvir, cheirar ou sentir. Um cancro, que fala, come, encanta e desencanta. Diz-se que o cancro e a pior doença deste século, porque um cancro não se sente até estar bem alastrado pelo corpo todo, bem alastrado pela árvore genealógica.
Um dia uma familiar disse me que era bom sentir a dor no corpo, no coração, no dia-a-dia. A presença da dor, significa que o corpo esta vivo por uma razão, e que ao sentir-mos dor, ele esta a comunicar connosco para que o possamos tratar e o possamos ouvir.
Nunca tinha pensado na dor desta forma, e muito menos, como um indicador natural, de que estamos vivos e prontos para nos curarmos e vivermos para a frente, num sentido mais saudável e mais feliz.
Nisto tudo, o cancro é a pior de todas a pragas. Pois um cancro é silencioso, e percorre-nos o corpo em pés de la, sem que o possamos pressentir.
O perigo do cancro, e precisamente este. Quanto mais espaço lhe oferecemos, mais ele vai querer se infiltrar, para correr tudo o que nos traz vida, e um funcionamento saudável e natural. Ele vai mascarar-se de amigo dentro do nosso corpo, e vai decididamente, acabar com a vitalidade dos orgãos que nos permitem andar, falar, sorrir, e mais profundamente, sonhar.
Este cancro que anda a querer corroer a minha família por dentro e por fora, já foi encontrado! Embora a cura ainda não tenha sido descoberta. Os médicos não sabem bem o que fazer, e que ângulo clínico hão de tomar, para o exterminar
A esperança e que ele se faca esperto, e desapareça rapidamente do radar de todos os exames que estão ser realizados para o subtrair.
O corpo desta família, já o conhece e sabe que só há um meio para o culminar. O cancro consegue sobreviver sobre a benevolência deste corpo, que o acolhe há anos, e que por medo ou respeito, nunca o deixou dissipar.
Eu tenho um cancro na minha família, que por quem por ele passa, sente lhe a fome e o despeito pela vida. Não há quem lhe dirija o antídoto da palavra, mas o olhar há muito esta manchado pelo comportamento cru, triste e pobre que tem adquirido. A frieza corre lhe nas veias, que vai deixando o seu veneno desde a raiz da árvore, ate as pontas sem sementes, frutos e flores.
Este cancro não tem nome, não tem cheiro, e não tem época, pois ele surge no meio dos ramos de felicidade que a minha família consegue erguir, apesar da saúde frágil que este corpo possui.
Este cancro vai viver muitos mais anos, pois ele tem espaço, sangue  e vida para consumir por muito mais tempo. E a verdade, e que todos sabemos que a cura esta longe para chegar, e que há que olhar para os anos de vida, em contraste aos anos de dor, de ingratidão, e de frustração.
Um cancro pode tirar a esperança, pode acabar com as forcas, e extinguir a vontade de sermos melhores, e criarmos um mundo tão mais belo e sincero, perto de crianças e coisas tão puras e ingénuas que a vida nos traz.
Se um dia reconhecerem os gestos de subtileza e inteligência deste cancro, não se assustem. A vida trará curas e formas de ultrapassar a dor, a doença e a morte, porque o tempo tudo cura e não olha para trás com amargura nem dissabor.
Um dia um beijo chegará para calar a forca de destruição deste cancro, que na verdade nem lhe damos importância para ele existir. Ele não existe no nosso dia-a-dia, porque ele não merece ter espaço na minha família. Numa família que é erguida por forcas e valores, que jamais irei esquecer de transportar, e de recriar, para o resto da minha vida, para quaisquer partes do mundo.
Adeus cancro!
Vou dizer olá a vida, e esquecer que algum dia escrevi este texto, e senti a tua presença por perto. Vou rezar pelos que não merecem sentir um cancro nos seus corpos, nas suas vidas, pois o que é bom será sempre superior ao mal. E que por mais caminhos que facas e trilhes nesta família, que saibas sempre e o quanto mais cedo que não será para sempre. Que nada é para sempre, nem mesmo tu, que de subtileza e charme te espalhas tu, não serás nunca o vencedor tu.
Um dia, eu soube de um cancro na minha família....