terça-feira, 18 de outubro de 2011

Nicolau e Ana Margarida


Hoje é o aniversário do meu avô. Nicolau Ananíades. Ele faz 92 anos, e continua a ser uma das pessoas que mais gosto de ter por perto. Faz me rir com a sua teimosia por vezes, faz me chorar pela educação que teve entre senhores e senhoras, em Lourenço Marques, numa altura em que teve que batalhar por uma vida melhor. 
Foi amado durante 53 anos, pela minha avó, Ana Margarida Visenjou, que nos deixou há menos de um mês, e já nos faz uma falta danada. Se ela estivesse cá, trazia no peito a maior inocência e a maior felicidade, com aquele seu jeito tão ternurento de ter a sua família reunida, em mais uma da celebrações tão doces, e africanas que temos. 
Os anos continuam a passar e aprendemos que o presente, é a nossa maior dádiva. Não há nada mais necessário que vivermos no presente, e se o tempo passar por nós, não nos arrependermos tanto pelo que não foi feito. Agirmos sim, de acordo com o tempo que temos, e as possibilidades que temos, no nosso dia-a-dia. 
Avó eu sei que querias tanto ter ido ao Maputo, ao Bilene, ao Clube Ferroviário e tanta coisa da tua terra linda, embora a tua condição cardíaca não to tenha permitido. Eu sei que viajas-te várias vezes pelo Guincho, e por Sintra, pensando em formas de seguir o mar até ao Índico, até sentires o teu mar na tua pele. 
Eu sei que viajaste através das tuas filhas, e das tuas queridas netas e neto, que percorreram lugares que nunca chegaste a conhecer…
Desejo que estejas feliz, estejas onde estiveres, e espero que tomes sempre conta de mim, das tuas filhas, e netos, e marido, como sempre tomas-te. Quero que um dia sintas orgulho do que construirei com persistência, e tenho muita pena, que nunca chegues a conhecer o meu marido, ou os meus filhos. 
Quero sempre ter no coração, a paz e a esperança que carregas-te ao longo da vida. E não quero nunca, desacreditar, que terei uma família tão linda como a tua. Pois para mim, sempre foi a nossa maior riqueza. E tudo o resto, nunca será demais, para compensar a tua ausência. 
Hoje o meu avô faz 93 anos, de vida, de amor, de esperança, e de tristeza. Hoje o meu avô celebra anos da minha família, onde é um homem respeitado e acariciado, sem quaisquer dúvidas. Ele tem poucos amigos vivos, mas os que tem, ligaram lhe de certeza às 8:30 da manhã, a desejar-lhe um dia feliz e mataram saudades dos velhos, velhos tempos.
Hoje eu quero é ser feliz, e embora noutra cidade, noutra luta, noutro mundo, o meu coração só quer dar um abraço ao meu doce avô que é o homem mais bonito que eu alguma vez já conheci.